domingo, 14 de junho de 2009

Poderia ser eu


Em minhas observações eu pude notar uma cena...
Estava sem carro e utilizando transporte coletivo, (como querem as autoridades) percebi que será necessário uma ótima estratégia e grandes obras para melhorar o fluxo viário em minha cidade.
Mas eis que perdido na monotonia de um trânsito lento, vi duas passageiras, respectivamente mãe e filha, que acabavam de embarcar e se sentaram no banco em minha frente.
Uma viagem, em um trânsito que não flui, nos causa diversas reações, como o sono, por exemplo. Tirei uma uma revista para ler, quando com o canto do olho percebi que a filha estava cochilando. Não demorou muito e ela caiu-se para o lado, recostando no ombro da mãe como amparo. Quão surpreso fiquei quando de gesto brusco e repentino a filha foi repelida pela mãe! A filha sem entender o que acontecia, ainda sonolenta, meio cambaleante inclinou-se para frente, apoiando-se no próximo banco. Fiquei pensando...o que se passava na cabeça da mãe? que tipo de coisa lhe atormentava a mente para tal atitude? A única coisa que a filha queria era somente sentir-se acolhida.
O que fazer quando aqueles que achamos encontrar segurança são justamente os que nos repelem? No íntimo fiquei indignado com o que vi, pensei até em intervir, mas me detive. Talvez porque aquela atitude poderia ser a minha, quando chego em casa depois de um dia nada agradável ou quando quase tudo deu errado, fico com o humor afetado e os meus queridos é quem sofre as consequências. Poderia ser eu, quando não estou com paciência para responder as perguntas de meu filho, ou jogar com ele um "cara ou coroa" quando na realidade ele só queira o "amparo" da minha atenção.
Mas a viagem seguiu, lentamente pelo trânsito engarrafado, e a cena seguinte porém, me deixou mais animado. A mãe talvez percebendo da atitude tamanha estupidez ou tocada de remorso, trouxe para junto de si a menina sonolenta, que agora aceita e aconchegada, voltou a dormir.
Confabulei comigo mesmo... mesmo com atitudes desprezíveis, ainda encontra-se espaço para refazer o caminho com pequenos gestos e consertar o que ainda é possível.